terça-feira, 1 de março de 2011

A Casa sobre a Pedra

Colégio Mãe de Deus completa 75 anos na quinta-feira. Comemoração tem uma personagem especial: a primeira aluna da escola


“Somos herdeiros de um grande passado, portadores de um grande presente e construtores de um grande futuro.” A frase do padre José Kentenich (1885-1968), fundador da Obra de Schoenstatt, pode ser lida por todos que sobem as escadas na ala histórica do Colégio Mãe de Deus. A escola católica, um dos símbolos de Londrina, completa 75 anos nesta quinta-feira, 3 de março. As festas serão realizadas no mês de maio – o mês de Maria, padroeira da escola.

Em 1936, Maria Alice era uma garotinha de 9 anos, filha dos pioneiros Eugênio e Elvira Brugin. Primeira aluna matriculada no Mãe de Deus, ela até hoje não esquece o entusiasmo da aula inaugural, com 76 alunos, no barracão de madeira cedido pela Companhia de Terras Norte do Paraná, onde hoje fica o Palácio do Comércio. “Fico feliz por estar aqui e comemorar esta data histórica”, diz Maria Alice, elegante e serena aos 83 anos.

Os boletins escolares de Maria Alice, conservados até hoje, mostram que ela não apenas era a primeira aluna matriculada, mas também uma das primeiras em desempenho escolar. Só se vê nota 10. Há um 9 em desenho, “mas eu nunca fui muito boa de desenho”. Os cadernos da estudante também foram conservados. A caligrafia impecável, o capricho das lições e até os desenhos de flores são testemunhas de um entusiasmo que continua vivo na escola.

Maria Alice se lembra com carinho das 12 irmãs pioneiras, religiosas que vieram da Alemanha, enviadas pelo padre Kentenich, com a missão de construir uma escola no sertão inóspito que era o Norte do Paraná. “As irmãs foram heroínas. Londrina deveria agradecer a elas todos os dias”, diz a aluna pioneira.

As irmãs de Schoenstatt vieram para Londrina sem esperança de voltar para a terra natal. A irmã Almut Weingaertner conseguiu retirar um tijolo do Santuário de Schoenstatt e pediu ao padre Kentenich que o abençoasse. Em 11 de fevereiro de 1938, esse tijolo trazido de Schoenstatt seria a pedra fundamental do Colégio Mãe de Deus, até hoje sediado na área central da cidade, em frente ao Bosque Municipal. Eis a “casa construída sobre a pedra” do Evangelho de Mateus.

As 12 irmãs pioneiras só estarão presentes na memória, mas algumas antigas religiosas vão participar da festa de 75 anos do colégio. Uma delas é a irmã Nívea Bisognin, que está em Londrina desde 1954, vinda de Santa Maria (RS). “Cheguei bem jovem, noviça.” A viagem ferroviária de Santa Maria a Londrina durou cinco dias – e não foi fácil. “Em alguns trechos, o trem parava e nós tínhamos que descer com as malas e seguir um trecho a pé, no capinzal, para pegar outra composição mais à frente.” Irmã Nívea chegou a Londrina cansada, mas feliz. Aqui ele teve oportunidade de fazer o que mais ama: ensinar crianças.

Hoje o Colégio Mãe de Deus tem 450 alunos matriculados no ensino regular. Por várias décadas, foi uma escola exclusivamente feminina, mas passou a aceitar meninos em 2006. Mesmo com as mudanças modernizadoras, a nova geração continua alicerçada nos ideais de Schoenstatt. Um exemplo é Vitoria Pelegrin Dias Rantin, 17 anos. Aluna da escola desde a primeira série, ela já passou como “treineira” no vestibular da UEL e foi selecionada para uma etapa da Olimpíada Internacional de Astronomia.

Há um elo comum entre as flores de Maria Alice e as estrelas de Vitoria. É a linha do tempo: “Somos herdeiros de um grande passado, portadores de um grande presente e construtores de um grande futuro”. Ali, perto das escadas, está a pedra fundamental.

Fonte: Paulo Briguet - JL

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