quarta-feira, 30 de março de 2011

Desabafo de uma mãe

Amigos, Estou indignada e apavorada. Eu nada entendo de Justiça e apesar das justificativas apresentadas para a decisão da soltura do pai de Joanna, minha filha, eu continuo sem entender como funciona a Justiça.

Primeiro entregam minha filha a ele para ser morta, agora a sepultam novamente dando ao principal responsável, que era o garantidor da vida dela, o pai, o que detinha a guarda, a liberdade para que comemore junto à seus familiares sua liberdade. E eu sigo em dias de luto intermináveis.

Só entendo do que fui tecnicamente e emocionalmente formada. Como mãe sinto uma dor lancinante, de alma sangrando, rasgada, ouço o som do sorriso sem poder vê-la. Como médica, posso entender fisiologicamente o sofrimento de minha filha naquela casa. Estar amarrada pés e mãos sobre fezes e urina num tapete dentro do closet, com uma camisa regata, num chão frio de granito em pleno julho, inverno portanto, é quase Auschwitz para uma criança de 5 anos. Não consigo suportar imaginar a dor que minha filha deve ter sofrido. A essa hora já estava queimada nas nádegas com uma queimadura feita por abrasão segundo os peritos. O corpo já tinha equimoses.

Cheguei ao hospital e a encontrei em morte cerebral clínica com pés e mãos inchadas e o corpo emagrecido com todas essas marcas. Após sua morte seu corpo foi, no IML, aberto de alto a baixo para ser examinado, sua cabeça recortada e seu cérebro fatiado a fim de que descobrissem o que a matou. Os detalhes eu poupo os que não entendem sobre o assunto de saber. Disso eu entendo: de sofrimento, de pavor, de saudades, de indignação. Mas eu não perco a fé e a esperança. Deus trouxe a verdade à tona e ela GRITA diante de nós. Minha filha não será esquecida no cemitério por nenhum de nós, brasileiros que se tornaram pais e mães de Joanna.

“ Nós não somos dos que voltam atrás e retrocedem, ao contrário nós cremos e somos salvos “ Hebreus 10: 39 - Bíblia Sagrada. Meu máximo agradecimento a todos vocês.

Em tempo: Hoje ao chegar para trabalhar encontrei um grupo de pacientes encostados na porta trancada à espera para me apoiar. Eles conhecem a minha dor. São representantes de vocês que se indignaram também!


Cristiane Marcenal

Fonte: Blog da Joanna Marcenal

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